A Enéade
Os egípcios tiveram uma grande tendência às agrupações familiares de seus deuses, primero por pares, representando a força criadora mediante um princípio feminino e outro masculino. Depois da reunificação, cada cidade lutou para a preeminência de seu deus, tentando fixar seu mito da criação, a partir de agrupamentos familiares: os pares passaram a tríades ou grupos maiores, até acabar formando Enéadas, quase sempre formados por nove divindades relacionadas. A mais importante de todas estas cosmogonias era a mais antiga: a versão criada pelos sacerdotes de Ra da cidade de Heliópolis. Todas as cosmogonias locais eram aceitas, e todas tinham uma base em comum:
- O Oceano Primordial, de onde se encontra o potencial de vida e de onde nasceram os deuses em uma clara analogia com o Nilo como o doador de vida.
- A Colina Primogenal, de onde se originou a vida, representada pelas terras que buscavam descobrir, lugares fertilizados de onde a vida ressurgia ciclicamente.
- O Sol, deus criador, causador do nascimento e evolução dos seres vivos,
- Os fenômenos naturais, personificados em diversos deuses.
Cosmogonia Heliopolitana
Na Enéade podemos distinguir três princípios que formam a criação em si mesma:
- Princípio criador: Vida Cósmica: Atum-Ra, Shu, Tefnut.
- Cosmos ordenado: Vida da Natureza: Geb, Nut.
- Ordem política: Vida do Homem: Osíris, Ísis, Seth, Neftis (e Hórus).
Quando o mundo ainda não existia, tudo estava fundido em um oceano caótico, Nun, onde se encontrava Atum (o Sol) diluído, até que tomou consciência de si mesmo e gritou, surgindo Ra, cujos títulos falam falam o suficiente: "Ele que criou a si mesmo", "O grande Ele e Ela", e faz emergir uma colina (A Colina Primordial), a primeira matéria sólida de onde cria e coloca toda a sua obra: cria o princípio masculino e feminino que para os egípcios são o símbolo da criação e da geração, formada pelo ar, Shu, e pela umidade, Tefnut, antepassados do resto dos deuses. Deste primeiro par, nascem Nut (a abóbada celeste) e Geb (a terra).
Ra havia proibido a união de Nut e Geb, pelo qual lhes castigou por sua desobediência mandando a Shu que os separara. Deste modo, Geb tombado, Nut arqueada sobre ele e Shu entre ambos permite a aparição do espaço necessário para o mundo que conhecemos com todos os sers vivos, incluindo a humanidade que nasce das lágrimas de Atum. Também os amaldiçoou ordenando que as crianças não nascecem nenhum mês, para que Osíris, Ísis, Seth e Neftis crescessem dentro dela, inclusive Ísis dando à luz Hórus em seu ventre. O deus Thot intercedeu por eles e roubou a lua pelos cinco dias epagômenos para que os cinco nascessem. Seth e Neftis não tiveram filhos, mas ela concebeu com Osíris a Anúbis, encarregado de acompanhar os mortos.
Nesta teoria não aparecem deuses locais até o nascimento de seus filhos Nut e Geb. Os deuses cósmicos, Atum, Shu, Tefnut, Nut e Geb não têm templos, nem festas, ainda que Nut e Geb são representados em tumbas e templos de outros deuses, enquanto que Osíris, Ísis, Seth e Neftis tinham numerosos templo e se celebravam festas durante os dias epagômenos, ao finalizar o ano.
Ogdóade era na mitologia egípcia um agrupamente de oito divindades. Ogdóade é um termo com origem grega; na língua egípcia dizia-se Hemenu.
A Ogdóade de Hermópolis tornou-se a ogdóade mais importante do Antigo Egito. Esta ogdóade reunia quatro divindades masculinas e quatro divindades femininas. Os deuses eram quatro casais: Nun e Naunet, Huh e Hauet, Kuk e Kauket e, finalmente, Amon e Amaunet. O último casal variou em alguns períodos, podendo ser substituído por Tenemu e Tenemuit, Niau e Niaut ou Gereh e Gerhet.
Note-se que o nome das deusas era apenas a versão feminina do nome do deus. "Nun" significa água, Huh, o espaço infinito, "Kuk", trevas e Ámon, o oculto ou o ar. A partir destes quatro elementos primordiais tudo se tinha originado.
Na iconografia estas divindades eram representadas com cabeça de rã (deuses) e com cabeça de serpente (deusas).
Cosmogonia
A Ogdóade de Hermópolis era acompanhada de um relato sobre a criação do mundo, que não se conhece através de um único texto, mas de fragmentos nos Textos das Pirâmides, no Papiro Harris, bem como através de textos da era ptolemaica.
No meio das águas primordiais nasce uma ilha, chamada Ilha das Chamas ou Ilha do Fogo, sobre a qual mais tarde se construiria a cidade de Hermópolis. Nesta ilha os deuses colocam um ovo, do qual nascerá o deus Ré, responsável pela criação do mundo. No que diz respeito às origens do ovo, o mito não é claro: ele pode ter sido posto por um ganso, um falcão ou um íbis. Numa versão do mito, o ovo foi criado pelo deus Chu.
Outra versão do mito envolvia uma flor de lótus. Os elementos masculinos da Ogdóade ejaculam para esta flor que flutuava no oceano. Quanto esta flor se abre surge um menino, o deus solar Ré.
O clero de Tebas, que tinha em Amon a divindade mais importante, desenvolveu outra versão que integrava este deus: de Kematef, uma serpente que era uma manifestação de Amon, nasce outra, Irta, que cria os deuses da Ogdóade.
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